Do que vale uma obra, além de seu suporte? Ato em curso, as obras não falam, entretanto, muito dizem. Uma obra não é, mas uma obra pode. E para ser obra, dizem, precisa estar exposta. Mas não pode a obra, guardar-se para um tempo que ainda não a comporta? Visto que nem tudo o que se expõe é obra, uma obra pode ficar guardada. Uma obra pode ser insuportável. Nem por isso não vale. O suporte de uma obra não é exatamente aquilo que a comporta: tela, livro, palco, só para citar os mais simples. O que comporta uma obra não é, necessariamente, o que a sustenta. Tampouco o artistautor que a engendra. Nem os agentes que a propagam pelo mundo, em geral um tipo restrito de mundo. Dadaísmos que só tropicalistas pegam. Coisas que já estão velhas, mas ainda não foram completamente digeridas. O que pode, numa obra, depois de vanguardas seculares, ser novo? Como pensar obras sem a repetição incansável de seus suportes? Palavras, objetos, cacarecos, despojos vários, corpo. Instrumentos que são suportes, suportes que são instrumentos. Há algo que ainda não tenha sido usado? Reapropriado? Transfigurado? E o que vale, hoje, desenvolver uma obra senão para desdobrá-la em pensamento? E pode o pensamento, que mal suporta o devir impensado das coisas, ser obra sem suporte algum?
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
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Um comentário:
Esses últimos textos sobre arte são muito poéticos e inspiradores. Interessante como consegues dar essa fluidez etérea ao tema da obra, sair do ordinário e fazer-te compreender nesse plano insólito sem cair numa mera análise crítica.
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