quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

ânsias

morder mais que a boca num abraço maior do que a gordura nada temperada das castanhas essenciais para tirarem os ossos da cabeça atordoada com a falta daqueles beijos

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

SOBRE PROJETO DE TESE

Bricolagem de obras? Mistura de cenas? Do que se trata? Personagens que passam, personagens que surgem sem se erguer, fragmentos. Nenhuma narrativa. Muitos nomes de medicamentos. Ecos da psicologia e todas as frases feitas de quem ama o “abismo tendo asas”. Voejar, tentar, fissurar. Infinitivos, sempre. Impressões, do púrpura ao vermelho, das carmens e dos carmesins. Nenhuma pintura que prenda a atenção. Apenas flashes. Coisas entrecortadas do rádio, meio sorriso, beijos escalavrados de absurdos, cuidados de salão. Pedaços de vida que não chegam a ser crônicas. Sem a menor cronologia, pelo menos ao leitor. Que tese será essa? Que estilo é esse, ora poema, ora prosoema, ora efeito de palavras? Efeitos que efetivamente não dão superfície alguma para o esquizofrenizado leitor se encostar. E quem precisa de encosto nas beiras do que escondemos sob as pálpebras? O que são exercícios e o que é desenvoltura do tema? Há um tema ou o carmesin é puro pretexto para desenvolver esse texto? Encontro a professorautora carregante daquela “embarcação de alunos” que outrora li? Encontro as Carmens e as Carminas da literatura e da dança? Onde encontrar algo estável senão por frestas entre os múltiplos quadros que o texto traz? Vinte e quatro por segundo? Cheia de perguntas, prefiro não achar nada e ir seguindo o fluxo, deleitar-me com as belezas e definitivamente esquecer que ás vezes se teima em procurar sentido nos textos que caem sobre as mãos. Para quê sentido quando se pode simplesmente sentir? Sentir os textos que nos preenchem os olhos, mesmo estes, de extrema rapidez no pendor agônico de suas rosas. Do gelo que derrete, das uvas que apodrecem. Esse texto “vestido com cristais” não pode ser a ignorância do “ponto crítico”. Grão de cardamomo, sem o café. Nenhum mercado para essa escrita assignificante cheia de proliferações psicóticas de possíveis e nunca encontrados significados. Ah, suaves escapes! O cheiro da próxima chuva, as sementes. A série flor-fruto-terra-útero-mulher. E o contraste com o mundano, a mesquinharia, a “vez do protocolo”, as contas a pagar, as licenças, os telefones celulares e os cabelos caindo. São as estradas esburacadas dos de vida difícil. Dos que precisam da prolacitonose. Menos escoamento, mais drenagem, nenhuma infiltração. Escreves com jorro, lúcida? Sem gotas. Apenas muita documentação. Serviço para fazer passar mal. E os fatos “não associados ao merecimento” podem ser o mote para uma tese que não defenderá as suas esculpidas linhas. Porque ali se chove sem vidraça, as conjecturas são inúteis e os humanos se misturam aos caninos. A lua insiste, em todas as fases. As respostas não precisam ser eficientes. A novidade trai. Os tremores são feras, são frios, são medos insustentáveis mesmo quando atirados na porta da geladeira. O olhar no meio das coisas, a insinuação dos homens, os peixes que sempre saem dos recipientes que lhe cabem. Com música entrecortada. Briguinhas, irritações crônicas, coisinhas que fazem parrrrte. São as reminiscências que escapuliram. Os alvoroços. Culpa de hormônios. Nos calores, umidades, arfares, tudo em Carmesim é sensação. Sem lógica nem fio. Labirinto de sucessões e domingos murchados. De gente pequena e alguma grandeza que a linguagem jamais traduzirá, mesmo que a todo tempo insista em mostrar. As notas são precárias mesmo. Salvos os aromas, as pétalas velhas e as drágeas de cetoconalol, a correnteza não tem rio certo. Limpar a casa é uma maneira de tornar-se irreprovável. E dá-lhe flanela nos móveis. Os móveis de vez em quando se tornam uma espécie de choro. Muito acertados, gargalham quando os corpos neles se arrefecem. Há momentos de dor imediata. Providências a serem tomadas. Conduções mais do que remédios. Pílulas que não resolvem nada. Melhor a tensão entre as palavras. Puro fluxo é fácil. Vai... Encontrar a cor certa, nem um pouco. Exige estudo. Luz, pigmento, bases. Complicado achar as combinações. Carmen gosta de azul. Azul eu conheço, todos os matizes e nuaces. Mas quem é Carmen, não posso dizer. Carmem?


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ALUNO: Nara Lúcia Girotto

TÍTULO: Carmesim

PROFESSOR ORIENTADOR: Prof. Dr. Tomaz Tadeu

PROFESSORA EXAMINADORA: Dra. Paola Zordan (PPGEDU/UFRGS)

Proposta defendida hoje pela manhã.


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Amanhecer impossível

Não me assombra, por mais que adivinhe as tintas dos meus crepúsculos. Surpreso, jamais imagina onde me escondo. Perde-se na vista quando, bem deitada, o tenho em perspectiva. Sem lastimar que não esteja vendo as cores que brilham, nem os novos desenhos. No máximo pode sentir esse vento que despenteia qualquer comportamento.