quinta-feira, 30 de outubro de 2008

de mim para ti

Os outros inspiram quando firmo o brilho de cada um. Não há como ser indiferente ao outro visto que em si, outrem difere sempre. Sem os outros, nenhum afeto aconteceria. As pessoas que não vivem os outros se aniquilam.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

ordens subalternas

Mandar, no pleno exercício de autoria, e não ser obedecido implica na eliminação de quem não digeriu o ato dirigido. Exigir uma tarefa é colocar um corpo a preparar da melhor maneira uma paisagem. Se esse corpo não está ali o suficiente para gozar o espaço trabalhado... adeus. Não se motivar a fazer coisas pelos outros é negar ajudar a si mesmo.

domingo, 19 de outubro de 2008

Para acabar com o ressentimento

Rancor escravo só pode ser eliminado com um “dane-se” para a própria impossibilidade de sairmos da escravidão.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

digressões junto ao fracasso

só amar desinfluentes

fundir-se com insignificantes

imergir

na obscuridade dos milhões

cuja vida

ninguém assiste

a ponto

de seus pensamentos

sequer existirem


o que é ser importante, se o que importa

para comportar alguém

no mundo impresso

expresso a muitos

televisivamente

implica redes

contatos

e oportunidades impossíveis

a quem

em casa, em aulas, em trabalho

em amores

absorve-se?


E o que mais importaria, se não a família, os estudos, as obrigações para bem se ganhar a vida? Só o amor?

O quanto perde-se vivendo tudo isso?


Somente a chance de criar uma obra.


Grandes Obras são egoísmos.


É possível alguém ser feliz sem ser egoísta?


Somente quem pensa a obra ministerialmente, de modo a ser professada, ministrada. Quem precisa expressar mistérios, quem sem arte sucumbe, dana-se. A única saída é fazer tudo o que o Ministério exige e ainda insistir na arte que nos faz mais vivos. Ela será muito pequena, quase invisível, mas molecular a obra se erguerá. Pouco vista, mas viva como qualquer outra.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Dispositivos anti-gravidade

Sem sutiã uma mulher não corre. Feliz de quem tem tempo de espremer até o sumo as frutas e bater bolinhos para merenda. Bordar, aplicar retalhos, aproveitar as roupas. Banhar-se com os pequeninos. Lavar o próprio sangue todo mês. Ao invés disso, tudo pronto e muito lixo. Academia e interação eletrônica todo dia. Saltar de pára-quedas é esporte para poucos privilegiados. Como estratégia bélica anda em desuso. A possibilidade de morte faz da coisa algo mais emocionante do que em si só um peito e um vôo é. Passar viva sem deixar cair os seios e aterrissar em pé após plainar suave por mais de cem metros, pura delícia.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

sala de aula de séries intermediárias

Nessa ebulição

agitante

somente fortes

conseguem imergir

sem afogar

nervos

no barulho

de vozes em transformação

e coisas que colidem

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

crônica

Não queira morrer. Por mais revoltante que seja estar no meio da multidão bestial que paga vinte reais por pedaços de plásticos espúrios somente porque piscam no escuro ou estampam o bichinho propagado tiranicamente por grandes corporações travestidas de felicidade. Bem no dia que você acordou a revelia de seu sono porque era hora de dar ração para o cachorro isento de pulgas que além de tudo te escraviza em horários e hábitos que teu corpo não tem a menor vontade de seguir. Assim como as crianças que governam a vida quase anulada das mães. Que acabam abandonando as convicções ecosóficas porque a pressão do sanduíche insosso acompanhado de brinquedo vence a resistência de quem cansado de servir e atender pessoas torna-se incapaz de enfrentar a crise que os desagrados em uma criança traz. Pais terrivelmente incomodados com o modo como as coisas são tentam estar fora do esquema geral, mas tudo os provoca a ceder. E então você está lá, no meio da multidão crédula de magia espetacular comprada a um sexto de salário mínimo. Levando banho de refrigerante porque ninguém presta atenção em quem sentou na arquibancada da frente. Pensando no absurdo em que se tornou sua vida de tostões extorquidos cada vez que você estaciona o carro. Nos incansáveis pedidos de gente em sinaleiras. Nos desconfortos e insatisfações generalizadas e tudo o mais que te impede de dormir, de gozar e simplesmente aproveitar um pôr-do-sol. Sofrendo a impossibilidade de morrer, já que não apenas filhos, animais de estimação, entes queridos e alunos contam com você, mas principalmente os fabricantes de todos produtos, medicamentos e porcarias que você, seus filhos e bichos consomem, que iriam ficar furiosos se todos nós deixássemos nos levar por Deus ao invés de ficar alimentando empresas lucrativas que vendem o “bem” da humanidade.

síndrome

Pânico por tudo porque ao assolar-se de imensidões o corpo quer suportá-las ao invés de junto a tudo isso deixar-se levar. Perde-se o controle, nem tudo é perfeito, fraquezas ficam expostas. Azar que julguem. Saúde é ser condenado a cada dia e não estar nem aí para isso. Alegria é dançar apesar das bolhas, calos e hematomas. Convalescer depende da gravidade da queda. Parar às vezes é preciso. Mas se não há tempo para paradas, seguir em frente afirma a vontade de fazer uma vida maior do que as vicissitudes do corpo. Superar o medo: única solução.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

sem comentários

Sora, colar chiclé embaixo da classe é arte?