quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

infinitivo deComposto

AMAR

A sombra, o homem, as imensas decepções. A fera, o ferimento, a carne, o sangue, o boi, a vaca, os cornos, a lua, a cauda do escorpião. A dor, o veneno, as pústulas, o pus, o punho, o dedo, o que se diz depois de doer. O sentimento, o sonho, o sorriso, a risada que mesmo assim vem. A sorte, a substância, a espuma, o morno, as águas, o jorro, o jato, o que joga sem querer ganhar. O gosto, o gostar, a adoração. A pele, os cabelos, o verdejar. O ósculo perdido, o eriçar dos fios, o arrepio, a mordida efetiva, todos os dias para transar. O vinho, o queijo, o prato, o provar. A língua, a letra, o sentido daquela canção. A calma das estrelas, a troca dos azuis, a textura das pétalas, as mutações do horizonte. O ar, o bafo, o braço, os louros, a espada, a prata, a grandeza dessa paixão. A barba, a brabeza, a bravura, a barbaridade do animal. A batida, o golpe, o chute na coxa, o safanão na cara, o tapa em cheio, os hematomas, as marcas nos músculos, o deslocar dos ossos, toda alteração. O pior, o pagamento, a lama na bota, a bosta, o perdão. A oração, os incensos, a pedra, o pedestal. A peste, o pé, o salto, o modelo, a exata prescrição, O processo, a pena, o centro, o conceito, a pegada, o que afinal pegou. O bicho, a baba, o banho, a banheira, o enrabar. O fado, o feito, o que tinha que acontecer. A cama, os carmas, o cheiro dos travesseiros, o inquietar dos números, o desvendar das linhas, o uso das colunas, o balanço da rede, o evocar do mar. A garra do caranguejo, os uivos do cão, a coragem de entrar. O tapete de ovelha, o fogo na lareira, a fumaça das ervas, o tostar da carne, o espeto, a faca, o bisturi. A mão, os mil e quinhentos nãos, os milhões de senão, as ordens espúrias, o vociferar. A força, o mais fraco, o que fica para lembrar. As taças, os brindes, os cálices impossíveis de se quebrar. Os pedaços catados, os cacos do arremesso, o cimento e a cola, o altar inexistente, o estranho lugar que é nós. O abraço, o laço, o pavão. As garças do cais, as tartarugas do parque, os vidros embaciados, as flechadas loucas, os quereres desencontrados, os labirintos, o preto sobre o branco, os projetos, os dejetos, os torpedos, o sacrifício inevitável, as inesperadas voltas no destino.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

mais silêncio

Falar de poesia – experiência radical- prender a força do poema numa linguagem sem código, a palavra poética é corpo que insiste em assistir cenas sem história. Insubtancial vacilação que interpela no inaudito da forma que o discurso não contempla. Ferida trágica que ao se cantar nada explica Implicada em ritmo melhor mostrar apenas a música em curso que dizer retumba a esmo.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

o eterno retorno da rejeição

todo corpo refugado por quem muito se quer estralhaça o próprio coração

o inSignificante da Tristeza

Deixo teu reino de cinzas e águas lamacentas. Adeus a pequenez das tuas buscas, mesmo sem deixar de amar a grandeza perdida de teu inacessível coração. Ó ferimento nunca sentido antes. Desamor fortuito, aniquilamento de um eu que desconhecia tamanha vontade. Desejos sempre em suspensão. Respostas e retornos da retórica sem limites cronológicos. Nunca mais aquela dor. Resistência. Incompreensão à entrega. Nenhum banho de mar. Abandono do abandono. Esquecimento do descaso de uma íris suja sob pálpebras cansadas. Nunca mais esse descuido. Ainda que tenhamos que dividir as ruas, não haverá encontros. Nem mensagens. Falta de interesse. Nunca mais esse doloroso assunto. Vínculo capenga. Vagas manifestações. Qualquer humano faz isso quando não tem vontade. Homens são mestres em fugir daquilo que os interpela arrancando as máscaras. Poucos, muito poucos, suportam o beijo perfeito de uma alma incendiada. Quanto mais fazem uso de gravatas, mais temem as águas jorradas na paixão fustigada por seu próprio querer, coisa que um cara pálida covarde jamais assume. Intolerâncias são a única maneira de suportar a insuficiência da procura. Inconformação só um amor bem resolvido espanta.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

pequeno burguês

Babaca sem salário, contador de trocados, infeliz. Assalariado só faz o que o superior pontua. Trabalha só para ganhar dinheiro. Sempre é pouco. Não vibra as conquistas, pois ao fugir dos desafios, só perde. Perdido, jamais sequer pode imaginar o que perdeu. Desconhece o sabor dos nastúrcios, jamais provou uma tâmara no meio da salada ou tomou sorvete com um prato salgado, nunca ousou encher o arroz de pinholes, não teve a chance de sorrir para fatias de carambola sobre o caramelo de um filé e é inimaginável que se encharcará com Veuve Clicquot. Refuga a lagosta sem saber a delícia do que sob sua casca se morde. Junto às flores de tecido ou plástico julga caro a delicada montagem semanal de um ikebana. Talvez não costume fazer fondues. Quando tem alguma possibilidade escolhe granitos porque em pouca ardósia pisou. Conta a vida das pessoas pela idade. Não deve cultivar alecrim, lírios, orquídeas e manjericão. Aniversário é pizza, raramente orgasmos, nunca desvio.

O pior CsO da História

Inviabiliza a produção. Sem técnicas de roteiro não consegue atravessar o oceano. Vê poucas pessoas escondido atrás do monitor. Quase não existe. Dói porque seu corpo junto a outro corpo mudaria toda uma existência. Bicho arisco sem muitos sorrisos a repugnar horizontes que completamente desconhece. Bestinha a ser mandado às favas. Trastíssimo. Tenta ser um Teseu quando mal humano é. O que consegue?

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

tudo errado

porque você tinha alguma idéia do que seria o certo

dez mais

1. sem raios de sol venho na nuvem densa da tarde que perde a luz para fazer brilhar teu olho sobre meu corpo a vibrar teu cheiro em pele esparramada em água de gozo e glória a ser possuída sem sombra por teu fluxo que amo sem medo de nele me perder


2. sozinha na noite esfumaçada a escabelar os meus serenos respiro as moléculas que de ti me restam e rindo da completa falta de esperança cheia de certeza equacionadas por tuas lutas vãs penso em tudo o que podemos e não fazemos e o que fazemos sem poder e os poderes sempre partidos e tudo o que queremos e pouco contamos e o que contamos e pouco damos importância só por dar


3. passou mesmo com o risco de voltar


4. e veio porque era para ficar o que se pensou isso e acabou aquilo sentimento fora do programa significado sem sentido feito para festejar as estrelas que jamais foram contempladas ao teu lado


5. conclui a tua lista sem eu jamais saber se estou nela


6. sem esperar resposta engancho minha alegria em indagações


7. fantasias ampliadas para esquecer os quilômetros que separam os corpos que perto ou longe ardem pelo encontro das bocas e o roçar perfeito das línguas


8. belos poemas menos perplexos que minhas circunflexões soltas entre suspiros para melhor arfar o éter onde dançam há séculos nossas copulantes almas


9. perspectivas infinitas no que começa sem meta se não a efêmera comunhão de forças perpassada em pressão de músculos atraídos em mútua consistência boa numa firmeza de poucas chances que sempre precisamos agarrar


10. admirações que visam mais que miradas mis numa rede insana onde sem saber o que desejas buscas despendendo tempos de amores e de música por tanto quereres sem quebrar teu coração nem por mim e se foi por alguém já nem tu sabes tanto esqueces o que queres que tudo o que quisestes tens e ao me teres quase nem me queres pois me ter te realiza mesmo sem querer essa realização tão quista que miríades de pequenas vidas em nossa nudez vive sob as vestes que nos espantam por poucos dias podermos juntos as tirar

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

bicho

que se esvai na água que não tem, num cheiro que não abriga, perdido em dores que não me dizem, espremido, ai que falta, em noite de lua limpa e bastasse que leve embora mas nunca chegou para poder ir, não veio como ninguém vem, vazio de sangue próximo culpa de cheiros inexplicados pela desculpa em tanto não estar e deixar essa solidão tomar conta quando o corpo sozinho não pode se mover e tudo dói num desconforto que precisará recuperar forças sem os acalantos das mãos que deveriam estar estendidas mas na imensidão celeste de ninho despovoado voam como pássaros que nada consolam a raridade do carinho, as palavras que deixam de ser trocadas, o cuidado que só existe para quem não concerne os lençóis desabitados dos que mesmo amados jamais recebem alguma atenção

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

três semanas pode ser pouco

Tantos dias são acontecimentos muitos. Amo. E não meço as conseqüências de amar sem razão. Nem métrica. Ainda menos mensurável, por mais quilos e medidas que apresente.

Calendários não são mais que o registro das tuas ausências.

Horas funcionam para gerir o corpo.

Segundos podem ser maiores que alguns minutos. No abraço fora do tempo, teu cheiro. Pessoa. Na alegria e na tristeza. Para sempre.

“e o para sempre sempre acaba”

nas sábias palavras de Renato Russo

quinta-feira, 26 de agosto de 2010


Meu Lago também verdeja!











Foto de um dia de sol, dentro de um barco, postada em Dias Brancos demais.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

ontem foi ontem





ontem é aquilo que antes
foi hoje





amanhã hoje será ontem

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Para as leoninas da minha vida


longe delas

a vida perde a graça

faceiras irresistíveis

reinantes

encantos

marcantes corpos

que devoram

sem dó

tudo me ensinam

prazeres intensos

mundos filos reinos

onde

sempre vencem

as leoas afiadas

que me morderam

que cozinharam iguarias

e limparam

meu quarto

que me beijaram

que me embalaram

que me quiseram

que me escreveram

e contaram

de

cristo

na cruz

e seus milagres

histórias

de catengos

com lembranças

em prateleiras

coisinhas

lindas

bonecas

sorridentes

de batom

que me banharam

que magoaram

furiosas inocentes

rangedoras

que

esmagam

carneirinhos

que me comeram

e me escutaram

que me abandonam

que se foram

que morreram

e se voltam

ventre

do qual saí

que me gerou

em gozo


A saber: Nadia Michelon Basso, Maria Luiza Menna Barreto Gomes, Sandra Corazza, Vanessa Purper, Débora Bressan, Madonna, Fabiana Rossarola, Critine Margô, Mario Quintana, Iolanda Del Rio, Maria Feliceana Trajano, Antonia de Souza Basso, Sergio Andrade, Beatris Scomazzon e Naia de Oliveira.

Se a leoa que me deu vida hoje vivesse, estaria completando 64 anos.