terça-feira, 12 de outubro de 2010

pequeno burguês

Babaca sem salário, contador de trocados, infeliz. Assalariado só faz o que o superior pontua. Trabalha só para ganhar dinheiro. Sempre é pouco. Não vibra as conquistas, pois ao fugir dos desafios, só perde. Perdido, jamais sequer pode imaginar o que perdeu. Desconhece o sabor dos nastúrcios, jamais provou uma tâmara no meio da salada ou tomou sorvete com um prato salgado, nunca ousou encher o arroz de pinholes, não teve a chance de sorrir para fatias de carambola sobre o caramelo de um filé e é inimaginável que se encharcará com Veuve Clicquot. Refuga a lagosta sem saber a delícia do que sob sua casca se morde. Junto às flores de tecido ou plástico julga caro a delicada montagem semanal de um ikebana. Talvez não costume fazer fondues. Quando tem alguma possibilidade escolhe granitos porque em pouca ardósia pisou. Conta a vida das pessoas pela idade. Não deve cultivar alecrim, lírios, orquídeas e manjericão. Aniversário é pizza, raramente orgasmos, nunca desvio.

Um comentário:

Edmar Galiza disse...

CUrtindo o teu texto, vejo que tenho que tirar o pequeno burguês que luta em não deixar meu ser... Quando a gente menos espera,lá está o espírito do pequeno burguês escalando a nossa alma, pelas paredes das escolas, pulando pelos livros de chamadas, conselhos de classe e o cotidiando pouco colorido do emparedamento institucional.
Ao ler o teu texto, ganho um pouco mais de fôlego para expurgar um pouco mais este pequeno burguês que me consome. Com mais ânimo, amanhã cedo irei pisar de outro jeito, procurando uma linha de fulga, na quase inacaba aulas de teatro, de minha escola. Acho que é de vida, é de Dionísio, que preciso. Adiós...