Abaixo de mim, os pés
a ponte com estacas cravadas na areia
pela qual passamos sem bem
nos
conhecermos
Em torno de mim esse arquipélago vão
no
meio de águas turvas
cujos
nomes variam
numa
mão
Avistada nos amplos horizontes que desenham
morros
brandos
os quais tendem a desaparecer em dias de neblina
Atrás de mim o peso de quem aceita fardos
para pagar
injustiças
nunca
por mim cometidas
Abaixo de mim calçados escondem cicatrizes
rasgos
reais
ganhos na pele por ter dado
uma
preferência que devia ter sido minha
Frente a mim o café sobe
As pinturas dos abismos
mordidas no queijo
páginas de cem cadernos
contagem sem números de uma vida
marcas e traços a serem
no futuro decifrados
No sonho,
teu poema antecede a
noite fria
sorte estar no
acolher das cobertas mornas
que
fazem a morte sempre próxima deitar em
nuvens
No sonho,
uma profusão de conchas e moluscos
num mar raso e límpido que chego após
decolagens imprevistas
praia onde jogo carnes para serem devoradas
fazendo pequenos siris aparecerem
Abaixo de mim
Deixo de recolher tesouros culinários
Itens de coleção, porque estão vívidos e pulsantes
E tenho, uma bandeja de mexilhões agora congelados
Que me obrigam acordar
Nas permanências de meu pequeno lago distante
Acima de mim arco-íris e pássaros
que
quando perdidos dentro da casa
aceitam a
salvação das minhas mãos
mesmo que no torso
incomode o pus de uma queimadura
Dentro de mim essa inquietude ardente
povoada
por muitos livros
precipitada a palavras que tanto magoam
os que
nunca as compreendem
Adiante de mim, incógnitas
histórias sem
argumento
personagens ainda não
formados
tudo o que será vivido
e
por mais que se planeje
agora
não cabe
em
verso algum
se não o do instante
em que o todo
se esfacela
no presente infinito diante
do qual se escreve