sexta-feira, 16 de agosto de 2019

DIANTE DE MIM




Abaixo de mim, os pés
a ponte com estacas cravadas na areia
pela qual passamos sem bem
              nos conhecermos
Em torno de mim esse arquipélago vão
                      no meio de águas turvas
                        cujos nomes variam
                                    numa mão
Avistada nos amplos horizontes que desenham
                        morros brandos
os quais tendem a desaparecer em dias de neblina

Atrás de mim o peso de quem aceita fardos
            para pagar injustiças
                        nunca por mim cometidas
Abaixo de mim calçados escondem cicatrizes
                                    rasgos reais
ganhos na pele por ter dado
                        uma preferência que devia ter sido minha

Frente a mim o café sobe
As pinturas dos abismos
mordidas no queijo
páginas de cem cadernos
contagem sem números de uma vida
marcas e traços a serem
no futuro decifrados

No sonho,
teu poema  antecede a noite fria
            sorte estar no acolher das cobertas mornas
                        que fazem a morte sempre próxima  deitar em nuvens
No sonho,
uma profusão de conchas e moluscos
num mar raso e límpido que chego após
decolagens imprevistas
praia onde jogo carnes para serem devoradas
fazendo pequenos siris aparecerem
Abaixo de mim
Deixo de recolher tesouros culinários
Itens de coleção, porque estão vívidos e pulsantes
E tenho, uma bandeja de mexilhões agora congelados
Que me obrigam acordar
Nas permanências de meu pequeno lago distante

Acima de mim arco-íris e pássaros
                                    que quando perdidos dentro da casa
               aceitam a salvação das minhas mãos
mesmo que no torso
incomode o pus de uma queimadura
Dentro de mim essa inquietude ardente
                   povoada por muitos livros
precipitada a palavras que tanto magoam
                   os que nunca as compreendem

Adiante de mim, incógnitas
            histórias sem argumento
     personagens ainda não formados
tudo o que será vivido
e
por mais que se planeje
                                    agora não cabe
                        em verso algum
    se não o do instante
            em que o todo se esfacela
no presente infinito diante
              do qual se escreve