sábado, 18 de julho de 2009

Desce a rua
Foge do horizonte

veloz

Absorvendo
O que não se pode sentir

terça-feira, 14 de julho de 2009

deus e(x)s

os deuses escutam o que não queres me dizer

para sussurrar sem voz, no balanço das nuvens

tuas humanas confusões

cheias de vaidades

e por isso tão receosas

para chegarem até mim

os deuses riem de nossos planos

e fazem troça do meu sofrimento

por tua beleza tão relativa

devido a um corpo que sempre escapa

ainda que divino sejas quando me tocas

sagrado viscoso em sua pureza secretante

os deuses se enfurecem com nosso gozo

a suplantar a miséria que nos depositaram

então criam mágoas e desavenças

fazem chamados serem perdidos

inseguranças achadas em cada palavra que não se diz

os deuses padecem também

sangrando em lavas nossas desventuras

lacrimadas de temporais

endurecidas no frio cortante

das geleiras com as quais pareces conservar

teu fugitivo coração

que só os deuses

sabem como bate

Fragilíssimo

o eterno sem retorno. o retorno sem diferença

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Frágil

o coração apaixonado. a palavra de quem mente. o homem esquecido dos seus. as perguntas com respostas certas. os erros de quem se julga. o olho na ventania. os ovos fora das caixas. o graveto numa mão distraída. o plástico ressequido. a epiderme do ancião. o fêmur septuagenário. o papel nas intempéries. a pele submergida por algum tempo. o humor pré-menstrual. a flor da planta rasteira. o óvulo, o embrião e o feto. o recém-nascido que não é abrigado. o mamilo de quem amamenta. a mucosa no frio. a folha depois de dias que caiu da árvore. o figo do qual não foi feito calda. o casulo nas mãos do humano. a teia embaixo das vassouradas. as vestes apertadas em quem dança. o dedo mínimo de encontrão com móveis. o espelho na frente de quem se acha feio. o vidro perante fortes impactos. os caquis. a taça no burburinho da festa. a nudez no seio da multidão. o sorriso de quem não acha graça. o argumento de quem não crê. as leis sem quem as promova. o jurídico sem quem o advogue. a saúde que depende de remédios. a opinião de qualquer pessoa. o sentimento de quem não mergulha na alma do outro. a vontade de quem só age por medo. o interesse de quem só quer os créditos. o beijo de quem não deseja com ardor. a ereção do inseguro. a lubrificação sem erotismo. o orgasmo cheio de pensamentos. os intestinos digerindo neuroses. a estabilidade da histérica. a razão esquizofrênica. a tolerância num obsessivo. a limpeza feita pelo relapso. o dente de quem não escova bem. os cabelos de quem não cuida. o motor a se fundir. o texto de quem não lê. o trevo antes de se espalhar. o balão de aniversário. a língua de sogra depois da quinta assoprada. a voz de quem berrou. o jornal e tudo o que nele está impresso. as minhocas retiradas do húmus. as unhas nos dentes. o crânio atirado no asfalto. o pneu rolando sobre um prego para cima. a formiga sob o dedo da criança. as verduras dentro da boca. o hímen na primeira vez. a vagina cheia de cândida. o meio dos dedos tomados de fungos. os cogumelos de muitos dias. o pequeno molusco sem sua concha. a saladeira de fina porcelana. o barro no forno. a atenção do perturbado. os animais fora de seu habitat. a pétala que se morde. o sucesso de quem se vende. os contratos sem assinatura. os tratos com quem não leva nada a sério. a confiança de quem foi agredido. a criança abandonada. a reciprocidade sem resposta. os cultos sem arte. os produtos feitos para virarem lixo. os brinquedos de hoje em dia. o vinil dos velhos discos. as antigas agulhas de toca-discos. as quase extintas fitas cassestes. as coisas ditas na televisão. as aulas pouco preparadas. as palestras de quem se repete. as tintas expostas ao sol. o fio que muito se puxa. a corda dos violinos. a alegria de um recreio. as linhas tênues. a visão no meio da névoa. a coluna sem alongamentos. as pálpebras depois de muitas lágrimas. a sincronia sem símb(a)olos. a casca das feridas. o amor que fica vago. a carne dos que adoram um corpo

improvisações cintilantes

uma carta

inquietação sensível

grafa

com amor

desejos de impossível

a investigar

suores

corpos em encontro

experimentação dizível

com rigor

e forças

cujas cores

gesticulantes

espalham

pensamentos

que incitam

sentir

sábado, 11 de julho de 2009

uma explicação

O que se pensa deve ser dito. Entretanto, o que se diz nunca é exatamente o que se pensa. O que é pensado põe a criar. Dizer não é criação, nem pensamento. Os pensamentos criados não ditos morrem. Na morte há sempre alguma coisa a silenciar. Criações das quais nada se diz acabam não sendo pensadas. Por mais que dêem o que pensar e tudo possam dizer, descriam os silêncios do que, ao ser deixado, por si, morre.

desequilíbrio,

Talvez todo amor que te caberia tenha ficado em mim.

terça-feira, 7 de julho de 2009

fora

Fora com o “disse e não disse”, com quem acha estar errado ou defende que não errou, com quem não quer estar perto, com quem exige presença, com tudo o que nos agonia, com tudo o que nunca acontece, com o que pouco comparece. Projeções não passam daquilo do qual partem. Onde um coração partido reparte as dores em palavras. Tristezas são ritmos diferentes. Erros e acertos não são algo a serem compatibilizados quando tratamos de paixões. Não há jurisdição quando agimos apaixonadamente. A loucura de quem ama não reconhece injustiças. Ao não ganhar o osso e a carne que merece, uiva, rosna e agride. Os cães seguem seus instintos. Cadelas abandonadas exigem atenção. Doutores racionalizam tudo. Salve Saint Roland Barthes, canonizado academicamente, cujo credo fragmentado salva o apaixonado a cada linha na qual encontra seu sintoma. Palavras repercutem, corpos provocam ebulições, desespero exige arte. Ò Santo pederasta, cujo discurso redime os absurdos de quem ama. Amor não se julga. Se pega. Amor não pegado melhor fugir. Fora sofrimentos de Werther! Fora ressentimentos wagnerianos! Fora homens incapazes de mergulhar no próprio vulcão.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Finais

Quando as altas brigas não acontecem, o que se resolve parte como uma lâmina, a cortar o mais sensível da pele sem derramar sangue, a cravar o coração numa ferida que não verte, a deixar um ferimento que, em si, jamais chegará a uma cicatriz.

Sinal Vermelho

Um olhar motorartista
Idas e vindas de uma superVISORa.
Série de fotografias (quase mil) executadas desde 2004, em paradas do trânsito automotor.

Recorte da paisagem urbana.

Contemplar, num instantâneo instante de pseudo-atenção.

Enquadrar. PARE. Imperativo.

Fatores que deterinam as imagens: tempo das paradas, diferenças dos vermelhos. angulações do carro; variações luminosas do dia, posições solares em relação às ruas.

Trazer para perto o que sob o vidro parece longe.


O corte

coreografias com sinal vermelho ao centro
saídas de palco opostas, cena esquizo
platéia dividida

Pessoas se carregam. Sísifos amorosos. Os corpos relaxam porque foram exauridos. Há encontros. Que não duram mais que os desencontros. Há solidão. Não suportar a própria violência é impingir a si mesmo o ódio do mundo. Lixo, descarte, aparições, quase congelamentos, riscos, amassões, ranhuras. Mulher-bomba. Quedas. Mulher-manequim. Necessidade de especular. O trabalho, o cansaço, o fastio, o tempo que só existe enquanto contagem absurda de atos que nunca levam ao gozo. Tudo é tensão. Mesmo no caixão refrigerado feito para conservar. Declives perigosos. Um pouco de alívio na pancadaria. Bater metais, soltar raivas, fazer barulho, sair da inércia. A luz é cortada. Fim.

http://espetaculocorte.blogspot.com/

sábado, 4 de julho de 2009

louco arcano mercurial

No torpe do que se comunica, deixa lacunas que são capazes de muito ferir. Ao machucar, cura. Quando cura, silencioso, exige superações. O que tem que ser superado obriga ao sacrifício. Sacrificar prazeres é matar a alma que pulsa no mais íntimo dos nós. O mais profundo ferve. A fervura mal deixa a sustentação dos ossos. O que resta, pedaços descarnados, fica ao abandono. No relento dos sentimentos a serem esquecidos, recebe os raios que deram a vida para as moléculas. Sob sol, sob a lua, um dia novamente escutará o chamado para tão grande dança. Na prática, apenas uma literária e agoniante espera a pulverizar seus incontroláveis males. Pois nunca passou de estrela distante, reles esperança de uma terra que nunca, nessa vida, seríamos capazes de cultivar. Para atravessar o portal e chegar onde tudo valorosamente frutifica e viceja, teria que abraçar o abismo para onde jamais foi capaz de levar a parte que dele, para sempre e com todo desespero, precisa fugir para onde jamais conseguirá ser encontrada.