sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

infinitos: vistos por perspectivas várias

1. Pensar só acontece porque se dá na matéria.

2. 2. O caos é virtual, efetiva o rela num plano onde os conceitos se atualizam

3. 3. Todo problema é CORPO.

4. 4. O devir expressa o encontro dos corpos.

5. 5. Vianda= carne abatida, carne de açougue.

Notas para A cor filosófica em Deleuze: pensamento e conceito de Jane Rodrigues Guimarães.

sábado, 3 de dezembro de 2011

mãe, professora

Alimentar. Providenciar. Correr. Atrás do tempo. Comer. Beber. Consolar. Abraçar. Doar meu corpo. Deitar junto. Dormir sem sonho. Deixar de ser.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

o que quiser

o que quiser quis sem querer

qualquer coisa que quiser nunca se quer

o que se quer é não querer

sexta-feira, 24 de junho de 2011

pensamento em ti

se eu te penso empurro nuvens para alumiar teu rosto, entrar no fundo do teu olho e afundar na superfície imensa da vida que a cada instante nos afasta sedimentando números que nos unem e nomes que fazem a fina pele tão aberta a fungos e feridas e feias inserções que é melhor nem pensar

pois quando te penso sofro os arrepios que deixo de sentir e todos abraços que tua força exaurida não permite e me deito fria com dores certa de me esquecer sem conseguir não te pensar

então des-penso e durmo sem dormir aquele sono impensado de um corpo que sem outro corpo pouco se pensa

sem descanso

Qualquer pessoa faz muito menos.

Consumida pela solidão de quem faz tudo, nada que faz acontece.

Desacontecida, tem que aprender a não fazer mais nada.

Talvez assim alguma coisa aconteça

segunda-feira, 13 de junho de 2011












J. M. W. Turner: Luxembourg (1834)

uma semana

preparo de aula, guardar casacos espalhados, os horários das aulas de reforço, cardápio mais ou menos estruturado, instruções para recolher as cinzas, revisão da água, perdendo a hora, duas lavagens de cabelo, serralheiro da solda da boca de lobo de portão, treino incompleto, a indicação das bolsas, aula corrida sem intervalo, entrega revisada como deu ao a organizador, um conto de Onetti, agasalhos pela manhã, leitura de sete mapeamentos, as meias em suas certas gavetas, manchas a serem esfregadas, a conferência de sexta-feira, a mala a ser feita, a troca de roupa de cama, o creme para as espinhas, um anti-térmico para o convalescente, algumas palavras para a estagiária, a hora da ginástica, os pagamentos, a limpeza da areia, a lista de convidados, o envio da documentação, a cópia da papelada, a quatro ligações de saudade, o parecer técnico para ontem, a chamada esquecida em casa, a anotação de presenças, a reposição de papel higiênico, as presilhas de cabelo, a apresentação da próxima semana, as passagens, as combinações, a mensagem esquecida para o educativo da Fundação, a maria-chiquinha bem ao lado, a marcação das consultas, a diarréia da pretinha, a fatura, café, café, café, a exposição sobre projetos, a dispersão da conversa, os dois mais dois são quatro, a piada da pérola, as recomendações diárias, a falta de um tempo para um banho, a insuficiência das palavras, os gastos a serem anotados, a separação do lixo, as visitas a serem feitas, os telefonemas de consolo, o pedido de mapa astral, dois textos para amanhã, alongamento, a reza, a oferenda aos antepassados, mantra, sonho seqüencial ofidifágico, o estresse de uma, a briga de meninas, interação de pelos, rápido back-up, poemas a digitar, presentes comprados, sem saco para delineadores, dentes escovados, contorno com batom, as questões norteadoras, os dispositivos em análise, o fu do gato, um beijo mal dado, um chazinho, o acumulo de ausências, as perspectivas de avaliação, a lista da produtividade, o meu ovário exposto, conceitos a desbravar, o pó na prateleira, a acomodação dos anéis, cinco mil idas ao banheiro, uma ruga no espelho, um cabelo branco arrancado, um abraço porque te amo, beijinhos de boa noite, quarenta e sente mensagens divulgando eventos, convite para publicação, aceites e inscrição, atenção às provas, o lado bom e o lado ruim de cada um sem tempo para eu dizer do meu bom, notícias de cirurgias, valha São Rafael, depósitos, a apropriação dos saberes, a escolha das temáticas, a lista imensa de coisas a fazer, oito bilhetes na mesa, os certificados a serem entregues, os sintomas, a injeção e os medicamentos, minha feiticeirinha, as estufas, caiu a conexão, o ar, o recado, as compras incompletas, agulhas no pescoço, vagas apertadas, chuva, lua crescendo, crepúsculos tênues, il referendum, caixa postal, combinações com o gerente, contato da supervisora, a carga horária do fono, reunião de coordenadores, levantamento de preços, uma fotografia, bexiga cheia, pés inchados, fome de quê, o quadrinho do André, cento e sessenta e seis slides, aereoporto deserto, cinzas vulcânicas, pesquisa, desejo de Patagônia, dez horas de digitação, cara no telão, nenhum jantar, banho de imersão sem fim, whisky com Red Bull e Foucault e imperativos até duas e meia da manhã, arrumação geral, pano, louça, restaurante que hoje cozinha nem pensar, quantas horas na frente do pc, supermercado, armários de mantimentos, geladeira, congelador, arranjos, não quero saber que perdemos, uma maquiagem, encontros, cerveja, histórias, sofás, camas, lençol que molha, ronron de felinos, café, café, suco espremido, fila para sorvete, kibes, pacotes, louça, louça, massa de bolo, rapa, forno, gol contra para o eterno adversário, os textos para a semana, a série azul, o Z, a aula de amanhã, teu molho com penne, suco de uva, o lugarzinho perfeito, a leitura dos últimos capítulos, as obras de Michelangelo, Turner, flores lindas, o suspiro profundo, a morte próxima, o merecido descanso.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Atrasado, mas sempre atual

Vontade de arte

No encontro que nos move

Decompondo azares

Com a sorte que estrelas nos trazem

Nesses dias que pensamos juntos

E nas noites a serem celebradas

Quando chegar o impossível

De não estarmos submersos

Nos livros que nos unem

Para inventar trabalhos

Em curso louco

De pesquisa, ensino e extensão.



Esse foi para o Leo, e o próximo foi em função da minha ida para sua banca de qualificação.

Universidade

Vim vestida para o espaço liso e fui barrada nos estriamentos do Campus da Saúde. Uma professora de tênis é suspeita, pronta para fazer ginástica pior ainda. “Só pode ir por fora”- disse o Guarda. Ao guardar o portão proíbe pedestres de atravessar uma Universidade que a priori é de todos e muito mais minha porque fui praticamente concebida nela, mas o tempo inteiro ela me ejeta, esteja eu a pé ou mesmo motorizada. Noutros dias no Campus Centro, acima dos mais doutos saltos na cápsula automóvel, empaco no fluxo trancado do trânsito que não transita e das vagas nunca vagas nas quais meu corpo deve sair carro e dele se despir com roupa para matar o desejo de ir e vir que esse modo de vida estanca.

Recusar o espaço sem perder o tempo de trabalhar ainda que obrigatoriamente expelida pela mesa que nunca consegui e pelas salas que necessariamente divido mas não tenho como me instalar. Ainda bem que recebo salário por esses enormes desconfortos.

domingo, 10 de abril de 2011

Só sou um animal

Fora da minha natureza

Proibido de bater na porta

Humano demais

Por causa da velhice

Isso que pouco bicho conhece


Uma fêmea

Poço de desejos

Corpo a acoplar

Um coração que bate

Bombeia sangue

E suporta uma pele

Que volta e meia

Dói

quarta-feira, 6 de abril de 2011

eixo ético

Cuidar de si é resistir aos dispositivos de controle. A alteridade humana não faz do outro a condução de um. Desistir do mundo é abandonar a própria vida.

heterista

Eu não reflito. Faço. Penso muito o que eu faço. Sem espelhar. Fora do templo, no tempo. Numa intempestividade ritual de pura paixão. Longe de mim abraçada nas artes. A copular com as palavras porque elas pulsam os sentidos que a pele perde.

terça-feira, 5 de abril de 2011

domingo, 27 de março de 2011

presença e cura

Um amor se faz entre corpos. Palavras o testemunham, mas discurso algum expressa a fusão de corpos que o cria.

pequena verdade

Amar é sempre certeiro. O problema é acertar o amor em alguém que não nos ame com a mesma certeza.

ausência entristecedora

Não se trata de “erros”, mas de usos e escolhas infelizes.

olhar sensações

Os desconfortos do corpo não são vistos. A tristeza de não ser amado se estampa no rosto. Só vê o sonho quem dorme com ele. Descrever um sonho não explica a sensação do corpo que se movimenta no sono parado. Os sonhos só servem para mostrar que é a mente e não o organismo que nos move pela vida. Junto a sensações, visões, sentimentos e fluxos outros ainda inominados. Os desconfortos do corpo são os do pensamento. A alma, força que anima e movimenta o corpo, não é exatamente o pensamento, mas sim como um corpo cria o que pensa junto ao organismo que vive. Numa vida que, nunca descolada do corpo, desorganiza o organismo na medida em que a alma o pensa e o põe a se movimentar. Nem toda alma pensa, ainda que todo corpo, em diferentes graus, seja passível de se movimentar. O corpo, com ou sem pensamento, dói. Talvez a dor aumente na medida em que o pensar seja intensificado. Mas ainda é melhor pensar no desconforto e na dor do que ignorar o corpo e viver morto dentro dos órgãos e seu organismo.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

professorartista

não firma identidades

posto funcionar num trânsito

mesmo procurando um ser

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

flechas desencontradas

Das coisas que me concernem, a desgraça de não desfrutar de um corpo é a que as piores dores lança. Ser um corpo privado de prazer é mais cruel do que ter um corpo agredido por quem almeja aniquilar com ele. Quem efetivamente me fere o faz porque está pleno ao meu lado, investindo contra mim e mesmo me fazendo sangrar. Porque vive ao meu lado mesmo quando parece não estar. Se eu sangro é porque alguém me ama. “Quem me ama me segue”. Os que me seguem o fazem porque querem ficar junto. No preparo da ceia, no festejo, no brinde perdido na dor insana da passagem marcada pela pior ausência. Sem sangue, sem carinhos, sem beijos: as almas famélicas buscam palavras. Mas carne que sou, palavra de amor alguma me consola. Somente a mão, decepcionada por alguém incapaz de amar, capaz de agredir por sofrer um amor que se desfaz sem nem ter sido feito, pode, ao me afastar, lembrar que há além dela há um corpo mais intenso que todas as intensidades. Um corpo que se entrega e me vive, ainda que sangrando por algo que definitivamente não vale uma gota do que no corpo pulsa.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

em casa

Encontro o novo porque o invento. No conforto das belezas que escolhi. Os sabores dos grãos, o aroma do café recém moído a borbulhar, as passas, os encostos, as texturas do pleno bem estar. Mesmo na submissão dos horários, a liberdade das horas dentro de si.

viagem

Vencer o sono, atravessar quilômetros, carregar bagagem, converter horário providenciar bilhetes, esperar embarques, instalar-se provisoriamente, ter desconfortos óbvios, piorar a alimentação, usar apenas o que há, sofrer a falta do que foi esquecido, nunca ver tudo o que há para ser visto, adiar tarefas, se cansar arriscando não encontrar o novo, o desconhecido, o estranho acréscimo aos sentidos que justifica espúrias sensações. Nada melhor que voltar.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

aventura

Caminhos, trilhas, trajetos, percursos a riscar um chão.

Para onde te levam, pés? Que bolhas e calos provocam?

Até onde vão, ó rodas? Para que percorrer suas breves e longas distâncias?

Se vais, aventureiro amado, que volte para meus olhos e para ainda me ter em teus braços, esses que vão junto mas continuam, em emoção, a me prender.

O que perguntas, boca que viaja? Quais línguas arriscas?

Em que desertos te calas?

Deserte, desde sempre, desde que para sempre traga as poeiras do teu sonho para a delícia indescritível dos nossos beijos.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

cabala

Não tenho outra coisa a fazer que não seja me deter nas tessituras do Livro do Mundo. O destino acontece. Encontrar equilíbrio é cortar o que não presta. Escrever a própria história. Aceitar que o pesadelo faz parte do processo que nos conduz à glória de vencer às contradições e dominar as adversidades. Saber que os adversários são ocasionais e que na devoração de uns e de outros quem impera é sempre a Mãe. E ela não empunha espadas. Nem perde tempo com objetos abstratos, pesos, análises equiparativas, medidas. Só posso receber amor se estiver com a mente em completo repouso. Só serei amada quando todas as taças estiverem cheias. Não há crueldade para um corpo saciado. Vitoriosa é a justiça que sem julgamentos sente o peso da alma de acordo com a gravidade dos pensamentos. Ser justo não implica julgar. A medida certa é algo que pode fugir ao bom senso. As sensações são verdadeiras, os sentimentos e os pensamentos enganam. O fogo do espírito não julga. O fogo do espírito não exige sofrimentos e êxtases alterados para ser alimentado. Basta arder. Numa sutil combinação que toda equação obtida não tem como expressar. Os números podem dizer muito, mas tal como as palavras, jamais deixaram de ser um jogo. Fácil se fosse mesmo as dez esferas e só umas dezenas e poucos caminhos. Beleza ter Jesus para colocar num deles.

Jesus

O caminho é só mais um caminho. Amar é uma escolha. Para escolher precisamos nos entregar. Uma entrega exige sacrifícios. Fazer sacro é beber e comer. Esse é o meu corpo, esse é o meu sangue. Pão maravilhoso, vinho da vida.