terça-feira, 27 de abril de 2010

cura

“abraço genital completo”

expressão de Wilhem Reich, aprendida sem rigor acadêmico num de seus livros quaisquer

o amor

é um sexo que funciona ao longo de vários dias, acontece todas as semanas e sedimenta a fusão de corpos por muitos anos

paixão

intensivo vibrar de corpos que nos seus altos e baixos faz um amor durar em um tempo não contabilizado em calendários e relógios

mistura explosiva

surpresa pela audácia, abalo, marca do mínimo atrevimento de um lábio, escorre a lava do estremecer inusitado daquele acontecimento que ocupa a passagem das horas nos números absurdos do desejo

desconcerto

volta da menina esquiva a correr de tudo o que pode abalar a perfeição matizada de rosas e verdes azulados em sua agradável casa de bonecas

terça-feira, 20 de abril de 2010

Sessão de Grupo de Trabalho

Vejo o cimo dos jacarandás pelas frestas da persiana. O ar-condicionado faz, de tanto em tanto, um zumbido que parece turbina a levantar a sala em vôo. Continuamos presos no chão. Sentados em roda. Conversamos. Os doutores falam de conceitos. Os alunos se justificam e prometem estudar mais. As paredes são estupidamente lisas, talvez para que, a cada aula, a cada defesa, cada um escreva o que a consistência da matéria exigir. Sobre os tacos de madeira, os pés em diversos tipos de calçado são inexpressivos e em nada ajudam na articulação da atual matéria com a tessitura virtual. Risadas conjuntas tiram a tensão, mas o medo de falar besteiras cria vácuos constrangedores. Gritam lá fora. Um telhado vibra ao sol. Insisto em fugir pela fresta. Meu olho vai longe. Já o pensamento empaca no desenho de um tênis, no ângulo do joelho do rapaz com jeito de moça. No cruzar de certo olhar, o azul me invade. E o nó daquele echarpe desfaz o pescoço de quem não se pronuncia nunca. Na tinta brilhante da porta a luz cria uma mancha. De costas para os quadros, o que se desenrola no ar não é marcado. Alguns dedos batem suavemente nas superfícies. A manhã corre. Ninguém sairá diferente para o almoço.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

palestra do crítico

interpretação chata sobre essência comum de estilos e descrições emblemáticas que tratam obras como alegorias


tudo é trópico, apelo a um Brasil construído por intelectuais engajados acima do gelo e nunca suficientemente audazes para dizer do que não estamos informados


mesmo que falem do que amam não conseguem sair do referencial iconológico onde todo estudioso se encerra


ainda que sob a atenção observante de caricaturações tão óbvias que uma audiência lúbrica só não corre para fora porque é hora de “trabalho”

quinta-feira, 8 de abril de 2010

ele é o cara

o cara publica, o cara é famoso, o cara lê o seu discurso, o cara é banal, o cara não diz nada que interesse, o cara decide quem entra ou sai, o cara domina um rol de autores e artistas, o cara dita as tendências, o cara faz explanações inúteis, o cara vibra pouco, o cara angaria público, o cara está preocupado com a identidade nacional, o cara mostra as figurinhas certas, o cara nem parece um bofe, o cara é bem apessoado, o cara consegue tudo, o cara ignora gente como nós

terça-feira, 6 de abril de 2010

chavões acadêmicos

apresentar evidências

parte da hipótese

franca positividade

amálgamas

termos formais

instituições anacrônicas

gerenciar elementos

culminância dos fatos

tecendo relações

edulcorado por

inóspita realidade

dicotomia de similaridades

embasado em argumentos

típico da sociedade

novas lógicas de poder

situação analisada

posicionamento crítico frente a

reprodutibilidade técnica

consiste em comportamento

obturações conceituais

excetuar as diferenças

naturalização de estatutos

no sentido de

servir de parâmetro

estreitamento de limites

relações intrínsecas

dimensão simbólica

resgate de verdades

dados obtidos

conseqüente processamento

imediata disseminação

conjunto de materiais

série de indagações

achatamento do espaço

articula resoluções

período em questão

dispositivo que produz

redução sutil

ênfase imaginária

entre civilização e barbárie

fundamentos teóricos

iniqüidade da elite

levar em consideração

ruptura temporal

índices locais

substituição de efígies

repercussão de mentalidade

é possível afirmar

veemência alegórica

estrutura inerente

implicação estética

mudança de perspectiva

suspensão de significados

práxis

extrapola cientificidade

replica simulações

paradoxos a explorar

esquema da composição

marcado por

emblema adequado

problematização da cultura

releitura

caráter prosaico

absurda constatação

referido esvaziamento

distinção do comum

tensionamento axiomático

semiose

arriscar pensamentos

antíteses corroboradas

explorar potencialidades

tom bem humorado

sustenta os desafios

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Facílimo

Fácil estudar obras e fazer relações entre imagens e textos. Como se pesquisar fosse achar conexões. Estabelecimento de relações não é exatamente um estudo, mas mnemotécnica renascentista para fazer analogias capazes de sustentar uma imagem convincente para o mundo. Tranqüilo suportar uma imagem longe da violência das grades, dos horários, das idas e vindas de ônibus, dos portões das escolas, da travessia de corredores, desentendimentos opiniáticos e lutas por sentido no confinamento ínfero de prédios cheios de sala de aulas.

Dificílimo

Danação aos batalhadores das letras e dos números e toda a matéria a ser aprendida. Ralação dos que esquecem de si para viver de ensino.

buscar prazer

Um pingo de hedonismo faz qualquer pessoa sair correndo para longe dos problemas da educação.