Vejo o cimo dos jacarandás pelas frestas da persiana. O ar-condicionado faz, de tanto em tanto, um zumbido que parece turbina a levantar a sala em vôo. Continuamos presos no chão. Sentados em roda. Conversamos. Os doutores falam de conceitos. Os alunos se justificam e prometem estudar mais. As paredes são estupidamente lisas, talvez para que, a cada aula, a cada defesa, cada um escreva o que a consistência da matéria exigir. Sobre os tacos de madeira, os pés em diversos tipos de calçado são inexpressivos e em nada ajudam na articulação da atual matéria com a tessitura virtual. Risadas conjuntas tiram a tensão, mas o medo de falar besteiras cria vácuos constrangedores. Gritam lá fora. Um telhado vibra ao sol. Insisto em fugir pela fresta. Meu olho vai longe. Já o pensamento empaca no desenho de um tênis, no ângulo do joelho do rapaz com jeito de moça. No cruzar de certo olhar, o azul me invade. E o nó daquele echarpe desfaz o pescoço de quem não se pronuncia nunca. Na tinta brilhante da porta a luz cria uma mancha. De costas para os quadros, o que se desenrola no ar não é marcado. Alguns dedos batem suavemente nas superfícies. A manhã corre. Ninguém sairá diferente para o almoço.
terça-feira, 20 de abril de 2010
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