sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Feitos invisíveis

Faço uso da palavra
Porque me é dada
com desejo
santo dínamo
posto
Em toda dor
Que o professar
anônimo
implica.

Palavras são postas
Para nada interpretar
ainda que a cerimônia envolva
Explicações
Que uma tese
Nônada
Ainda não consegue
se abster.

Por palavras
se mata
Com palavras
se fere
Com palavras
se jura
sem palavras
não se admite.

nas palavras
corre vida
palavra
somente
de ida
que vai
sem poder
voltar

Palavras, essas cafetinas decadentes, pesam.
Ah, o peso da palavra (p.14 de As Lições dos Poetas)
Jurada
Posto que julgada
Eclesiasticamente
em argüições
Hipotéticas
Jamais apartadas
Do pathos
Que as quer verdades.

Numa perspectiva em que, o que se é, ao se julgar como verdade, mascara o que, eternamente, vem a tornar-se.

Palavras
ainda que ditas
voam
facilmente esquecidas
só valendo enquanto ato
sem promessa
além de histórias
de marinheiros
lavradores
e qualquer sensual
que viva na terra.

E não repetirei tudo o que já foi colocado sobre performance quando...

Juízos bestas
Pessoalistas
Identificam aulas
Passados pareceres
essa dobra óbvia
virada
vir
vil
minada
cantada
Para mimar os ouvidos
Enfadados
Ainda que na preferência do teórico
Do que do incipiente poeta
Que surpreende
Mas pouco afeta
Na força
Germinal
Bactericida
Micológica
De suas palavras
Obscenas
Que transfiguram
O curso
Com licença
Para variar.

Ah, Franciele Sporh
Que tanto amei
E quero mais.

Palavras eficazes
Nada autorizam
Senão ordens
Que só servem
Ao poder
foder,
Que é o que realmente interessa
se eterniza
Ao narrar
Encontro
De pele
Gostos
Por palavras
Que nos aproximam
Para mostrar
O quanto é impossível
Fundir-se.


Palavras são instrumentos para fazer valer uma razão. Exercício de racionalizar. Racionar, dividir.

Antíteses
Para não rebateres
Ainda que contradigam
Os ditos
Imperfeitos
Experimentados.

Na palavroformance
Vibra
Pulsa
O dito
Que fende
Discurso
Em canção
Para ser
Desintegração
Instituída.

Uma palavra só vale em ato.
Palavras são variações.
Variar ergue uma obra.
Posta.
Obrar, aqui na Santa Casa,
É ir aos pés,
Produzir bosta.
Autores-artistas, autorartistas
fantasias
assaltos
Que nada encontram
Além da estranheza
Do pensar
Que toda arte
Obriga
na obra
inutilmente exposta
em sagração
ou caco
que o lixo
abriga

para ser
projeto insano
sem escolas
fora do livresco
impublicado
desenciclopédico
lírico
bom
de
atuar

Ah, essa Lavoura Arcaica sumária
Cássio Dalber Barth
E suas percepções...
Palavra: o que a terra dá
em canto
sempre
Descodificado
No Meio do tempo
Onde deu para historietas do paraíso
E o corpo afirma o que o pensamento quer.
Embora
a
Ordem dos cadernos
seja cabal
para se tomar
o todo.

Linguagem como invólucro da palavra? Nicho, continente, vasilha? Linguagem não é apenas receptáculo separado do conteúdo. Linguagem é aglomeração de palavras, montes de uso. Algo muito além dessas categorias forma-conteúdo-susbtância. Expressão, por certo, mas mais do que isso.

Chão onde se pisa
E se escondem artes
Por serem descobertas.

Suspender o real
Captar o tempo
Deslocando espaço
Matéria
Intratável
que
a Palavra
define
concebe
inventa
deforma
quando ergue
funções
formais
que só
participam
para restaurar
sentidos
inventados
para confundir.

A função do uso poético conjura, reúne, catapulta? Contra o quê?

Anelo
coisa-utensílio que a matéria
põe
como PALAVRA
substância presente
pré-sente
sensos
que re-atualizam o conceito
desfeito
esquecido
inútil
em Nome.
Indicativo
Sugestivo
Degustável.
Existe palavra sem boca?
Cor sem olho?
Experiência sem corpo?

Pensa-se com as palavras, não a, na e a partir delas (todas as coisas imperfeitas, p.9). Não porque essas somente disparem o pensamento, mas porque não há imagem que não venha acompanhada de gestos e ritmos que se exprimem na forma grafovocal que chamamos PALAVRA. Nome que dá propriedade. Impropriamente. Visto ser apenas força performática de sons e linhas. Ritmar.

Ah, límen
concepto
acolhido
na fonte
a deriva
de
um ser
que
já não é.

Poesia
leve palavra
não salva
Ajuda
Perambular
Por gosto
Vadio
De usar
Palavras
Porque
Só elas
conseguem
nos segurar

Parecer para a tese OS USOS DA PALAVRA de Marcelo de Andrade Pereira, defendida hoje.

nomes

Contemporâneo, pós-moderno, semiose, corporeidades, simulacros, conceitos, movimentos, hiper-realidades, novas tecnologias, dispositivos visuais, universos simbólicos. As palavras esgotam. Usadas demais, perdem a graça dos primários sentidos. Precisamos delas para dizer o sentido dos campos, das coisas, dos conjuntos. Sem dizer o que expressam coisas, conjuntos, campos, talvez elas nem tenham sentido. Nada signifiquem, nada manifestem, nada designem. Como certas palavras que, de tanto serem usadas, não funcionam mais.

eventos

Horas e horas, papo furado. Para que serve? E por que as coisas teriam que servir? Aquilo que está servindo hoje pode amanhã ser lixo. Teoria serve para dar sentido à criação. Sentidos expressam como o criar põe no mundo aquilo que se cria, o modo pelo qual as criações são impostas, expostas, depostas. O sentido mostra como o que é criado facilmente vira bosta.

forças se perdem
quando

não
expostas
na cara nua
pública

onde coisas
são
afirmadas

dos panos

Fim de todo tecido que não se presta para reaproveitamentos. Aquilo que não rende colchas, apliques, fuchicos e outras artesanias. Sem eles, nada brilharia. Sem trapos, pouca coisa reluz. Superfícies moles que, ao serem esfregadas no duro, dão a ele uma consistência que coisa alguma a teria. Não fosse o carinho nervoso dos esquecidos esfregões, tudo seria um nojo. Nada do que o homem faz liso seria agradável ao toque. Os panos se acabam porque existiram somente para manter as coisas em seu mais perfeito estado de conservação. Nem que seja como mortalha.


na mesa

Tantas pesquisas e nenhuma. Obras várias, nada expostas. Idéias infinitas, nunca suficientemente desenvolvidas. Projetos proliferantes, todos empilhados na mesa, Essa mesa que existe para comportar tudo isso e muitas outras coisas que jamais podem ser adiadas. Obrigações do instante que arrastam o mais interessante sempre para amanhã. Porque só importa ao corpo pensante, sentado na mesa, jamais ao mundo que dele exige trabalho. E a mesa, a revelia do que se quer e do que se deve, absolutamente existe. Nada precisa, nada deseja. Suporta mãos, papéis, canetas, teclado, monitor, livros, listas. Agendas e calendário. Tudo o que a um corpo se impõe. Mas é na mesa, desprofessada, que tudo se põe. E o que se põe na mesa se faz de inquietudes empilhadas. Anotações para que se note a vida e tudo o que a ela se impõe. Tudo o que nela se expõe. Ainda que somente sobre uma mesa.


criar incertezas

Não é fácil sair dos entorno seguro das ruas calçadas. Não cultivar a terra para obter alimento certo. Não cultuar imagens que apazigúem o nada de todo o pensamento. Porque parece melhor ficar com as certezas da cultura e a crença de que o conhecimento nos salva. Parece que conhecer vai nos dar o sentido certo. Como se refletir sobre as coisas fosse o suficiente para penetrarmos no insondável delas mesmas. Seguro é ter como coisa um eu imaginário onde ancorar o impossível de tudo o que existe. Coisas que não conseguem ser comportadas num discurso. Sujeito que escapa mesmo, assujeitado pelas palavras. Submisso à busca de significados. Sujo de compreensões que se querem devaneio, mas comprimem fluxos em ação comum. Covarde, visto que não se aventura no inimaginável onde as palavras nada figuram.