I
Depois de me negar duas vezes só posso dizer que, após a terceira, serei crucificada. Como sou mulher minha cruz está pregada numa roda na qual me amarram de pernas abertas, para ferir com ferro onde tanto sangro. Muito mais do que a metade de uma sexta-feira, meu sangue verte de tanto em tanto, se recompondo como fígado devorado de Prometeu e prolongando meu sofrimento por anos e anos, contados pelos vincos que a dor de ter sido negada sulca em meu rosto.
II
Chorarás arrependido e por mim dedicarás, então, a tua vida. Vais me adorar por coisas que nunca fui e erguer as tuas obras para louvar o sacrifício que fiz por teu amor. Sem do meu amor teres realmente experimentado, criarás uma falácia para compensar o gozo que não bebeste e o corpo que te foi oferecido e não comeste. Triste comunhão sem carne, na qual creditas realizar aquilo que, por covardia, não assumistes.
III
Se na terceira vez, ao invés de me negares, pegares teu bastão para repelir meus crucificadores, terás meu corpo e minha alma, sopro de desejo, alegrando todos os teus dias e satisfazendo o frêmito das tuas noites. Se na terceira vez, ao invés de me negares, usares tua rede para pescar nosso alimento, cozinharei os frutos da tua força para serem servidos em beleza e regados no vinho que minha ciência é capaz de extrair. Se, na terceira vez, vieres a mim com o esplendor da tua força provarás da imensidão daquilo que te chama, sem medo de dizer que mesmo longe sempre estivestes comigo.
IV
O galo ainda não cantou.
O galo ainda não cantou.
2 comentários:
UUUUUUUUUU!!!!!!!!
código usado em correção de trabalhos
quando o texto sobe
quem o domina senão aqueles que já o receberam?
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