quinta-feira, 19 de abril de 2012


Parecer sobre projeto de TESE de Juliane Tagliari Farina
Orientação: Tânia Galli da Fonseca
Examinadora: Paola Zordan- PPGEDU/UFRGS

Quando a escrita carrega uma voz
programa insensato para
uma audição da quarta pessoa do singular



EXAGERADO

quero o Atlas do Impossível porque conversar sobre loucura cansa
favor raspar a terminologia territorial e seus des
esquecer as perguntas
produzir no desmanche- MANCHE
anonimato dos autores do atelier- autores do acervo tem nome
nominal none
ai os autores e seus não nomes

uma sesta para digerir o fastio
quero guaraná

o que posso fazer para violentar teu pensamento? te tirar do já sabido e do já dito?
te sufocar para que não cantes?
NÃO

te quero fracativa forte frágil firme sempre

desmanchar a série ENCADEADA para encontrar uma cadência decadente desdentada
o insuporte intolerável instintivo
que delira o que não cabe
num parecer
plantas não construídas da menina que foge da vista frontal dos cômodos
pragmática louca da língua sem ordem
com palavra na redundância de signos soltos
trans semi bi tri sexual celibatária na solidão escrevente
inevitável
língua menor só serve para clitóris minúsculo
melhor dilatar uma baba e largar os conceitos amarradinhos
já digeridos que servem para artigo – lembra que é obrigatório publicar artigo

p.36> signos equívocos unívocos plurais
voz explicativa
demais
quando
a única miserabilidade são as palavras coladas aos significados que a explicação decalca
amei as dedicatórias e inclassificações  p.13] amei{ demais
uma estante louca de classificação irônica inconsistente paradoxal
é isso que tu quer defender?

investir no delírio somente se for capital e daqui tirarmos grana para pagar a festa

a fala louca não intervém em nada que não seja nossa estúpida necessidade de coerência que sob hipótese esquizo e analítica e psi contrapõe o regulamento ao amor bem quando esse precisa de regras para poder escapar das palavras de ordem que residem na falsidade de quem quer defender uma verdade
réguas não passam  coisas para nos acharmos dentro das linhas
seus risquinhos são de mentira

amar na linha do redemoinho que nos põe a dançar
enquanto conteúdos, formas, expressões
e sei lá mais que termo
pouco interessam ao corpo
o corpo que canta, que grita, que murmura e que deixa correr palavras somente para vibrar nelas

a abominação presente não passa da ausência de quem se ama sem precisar de palavras

o pior amor é aquele que se discute
o amor que não vale a dor que provoca é aquele cheio de palavras
cujos signos não batem com as atitudes do corpo
a palavra do louco surra os corpos
precisamos de encontros afetivos e não de proposições cuja manifestação significa desígnios
que não expressam a mistura de corpos que por amor nos compõem em arte outro amém
outrem na ilha deserta que nunca nos sai

e se os loucos de Pélbart são refugiados de guerra os nossos são uns nada pelo Bom Fim


há rostos e há vozes
tão bem construídos que não se traem
há pessoas traídas que se batem até sangrar

 sem rosto, subjetivação doutora e significância pirante que toda hora enlouquece
a fim de morrer de uma vez e simplesmente porque
os que vieram e venceram não mereciam estar vivendo

há dores que São Pedro algum recolhe
há dragões que Jorge algum é capaz de domar

daquEla que cheira e se estrepa
daquEla que adora escrever com bic mesmo sabendo que o tempo detonará a escritura
esborranchando a caligrafia no papel
daquEla cheia de ruídos
incapturável na mais dura disciplina

deixo meus rastros surtados por convicção
descontrolados porque assim é melhor
e te mando catar coquinhos
quando procurar superfícies de sentido que o pariu
e tu não me engana que não é teu
o poema da 52

única desvantagem é no manicômio não servirem sashimi, veuve clicquot e marzipan
por isso melhor disfarçar a psicose e garantir a estada aqui
acreditam que sinto medo quando minha vontade de morrer é aventura grande
para chegar bem onde não sei o que tem lá
sim, me precipito muito
escolhi uns corpos, mas eles tinham neuroses que feriam meus abismos
por que, então, vens acadêmica enquanto eu te queria fluxo e emanação?
erro porque confundo as datas e sofro a lonjura dos teus abraços numa cidade de cinema
onde conseguir um programa exigiria não te ler e não gastar as noites nessa escrita
talvez pessoa sem número
que perdeu a voz
na anotação trocada
 e agora, sem corpo...
Como? Não sou sem corpo então como parecer sem ser será?

se creio, acredito no que desejo
como não desejo sentido, quero as palavras sonantes
que só pulmão, garganta, língua e boca podem dar

ganhar as quartas e os singulares
perder a chance desse acontecimento
sem perdão porque esse tempo não voltará
já me desfiz sem nem fazer a performance
por mais que se queira o avião nunca cai
nenhuma bala na boca do túnel
sem evocar crítica, deus o livre
afungentar a clínica
que tudo se destrave sem c. se é que há alguma trava na louca que não entra no seu pote

daquEla que jamais tenta preencher lacunas, ainda que compulsoriamente risque
 rabisque e encha de quadros e coisas toda as superfícies possíveis

ESTRANGEIRO

Uma cama ampla com lençóis brancos e travesseiros azuis vista de cima. Um corpo com túnica indiana se espraia lendo caderno de espiral próximo a um facho de luz branca. Um close no braço cheio de hematomas.

Sala de pé direito alto. Três figuras sérias cujas roupas não interessam e nem se destacam somando números.  Pela janela o morro da Mangueira. Tantas vezes filmado que qualquer enquadramento vira clichê. Arquitetura orgânica pouco caiada. Não Há imagem captada que dê conta do fluxo de um olho sonoro perante as aglomerações vistas da sacada feita camarote na Universidade cinza. Caixas de concreto, lâminas perfurantes: esse é o prédio. Pode, uma “linguagem” como o cinema remeter ao fluxo pouco cortado do pensamento enquanto imagem sentida no barulho do trânsito, no suor acumulado nas dobras sob atmosfera tropical, no cheiro emanado entre as pernas, no olho que discorre aproximações e distanciamentos que enquadramento algum dá conta? Há cinema nas palavras? Pode, um cinema de escritas loucas sem imagem? Conseguem, os frequentadores da Oficina de Criatividade, assistir filmes? Por que não apenas a escritura, em sua grafia de glifos encadeados ao esmo do morfema saboreado pela voz? Por que não deixar a sintaxe coerente e se assumir na prova do que o juízo traz como impossível?
Ah, sei, defendes uma tese e fazes isso já de antemão, com a excelência que um Programa exige. Então, use essa arguição, publique, enfim, cumpra com que o mundo espera de uma professora doutora terapeuta e tal. Vai em frente, tu podes muito.

Aqui, paro na imensidão do basalto e num horizonte onde o mar e seus cheiros não se fazem sentir, embora eu saiba, intelectivamente, que estejam perto. Viajo para ficar no mesmo lugar examinador, avaliador e acadêmico do qual a arte sempre quer fugir. Por isso piro. E a pira, simbólica, farroupilha e expedicionária é coisa que só na Redenção se entende.

Insensato. Posso adjetivar? Cabem adjetivos para uma proposta dessas?

Não vamos ficar na problemática das adjetivações. Os artigos estão praticamente prontos dentro do documento. A ordem é publicar.

Todo meu carinho, o quanto for possível de extrair das frias palavras que mando desacompanhadas da voz.

P.S. As mães sempre ficam mais histéricas e descontroladas perto das filhas.
P.S 2. As filhas tentam se controlar e parecer sensatas perto das mães. 

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