Parecer sobre projeto de TESE de
Juliane Tagliari Farina
Orientação: Tânia Galli da
Fonseca
Examinadora: Paola Zordan-
PPGEDU/UFRGS
Quando
a escrita carrega uma voz
programa
insensato para
uma audição da quarta pessoa do singular
EXAGERADO
quero o Atlas do Impossível porque conversar sobre loucura cansa
favor raspar a terminologia
territorial e seus des
esquecer as perguntas
produzir no desmanche- MANCHE
anonimato dos autores do atelier-
autores do acervo tem nome
nominal none
ai os autores e seus não nomes
uma sesta para digerir o fastio
quero guaraná
o que posso fazer para violentar
teu pensamento? te tirar do já sabido e do já dito?
te sufocar para que não cantes?
NÃO
te quero fracativa forte frágil
firme sempre
desmanchar a série ENCADEADA para
encontrar uma cadência decadente desdentada
o insuporte intolerável
instintivo
que delira o que não cabe
num parecer
plantas não construídas da menina
que foge da vista frontal dos cômodos
pragmática louca da língua sem
ordem
com palavra na redundância de
signos soltos
trans semi bi tri sexual
celibatária na solidão escrevente
inevitável
língua menor só serve para
clitóris minúsculo
melhor dilatar uma baba e largar
os conceitos amarradinhos
já digeridos que servem para
artigo – lembra que é obrigatório publicar artigo
p.36> signos equívocos
unívocos plurais
voz explicativa
demais
quando
a única miserabilidade são as
palavras coladas aos significados que a explicação decalca
amei as dedicatórias e
inclassificações p.13] amei{ demais
uma estante louca de
classificação irônica inconsistente paradoxal
é isso que tu quer defender?
investir no delírio somente se
for capital e daqui tirarmos grana para pagar a festa
a fala louca não intervém em nada
que não seja nossa estúpida necessidade de coerência que sob hipótese esquizo e
analítica e psi contrapõe o regulamento ao amor bem quando esse precisa de
regras para poder escapar das palavras de ordem que residem na falsidade de
quem quer defender uma verdade
réguas não passam coisas para nos acharmos dentro das linhas
seus risquinhos são de mentira
amar na linha do redemoinho que
nos põe a dançar
enquanto conteúdos, formas,
expressões
e sei lá mais que termo
pouco interessam ao corpo
o corpo que canta, que grita, que
murmura e que deixa correr palavras somente para vibrar nelas
a abominação presente não passa
da ausência de quem se ama sem precisar de palavras
o pior amor é aquele que se
discute
o amor que não vale a dor que provoca
é aquele cheio de palavras
cujos signos não batem com as
atitudes do corpo
a palavra do louco surra os
corpos
precisamos de encontros afetivos
e não de proposições cuja manifestação significa desígnios
que não expressam a mistura de
corpos que por amor nos compõem em arte outro amém
outrem na ilha deserta que nunca
nos sai
e se os loucos de Pélbart são
refugiados de guerra os nossos são uns nada pelo Bom Fim
há rostos e há vozes
tão bem construídos que não se
traem
há pessoas traídas que se batem
até sangrar
sem rosto, subjetivação doutora e
significância pirante que toda hora enlouquece
a fim de morrer de uma vez e
simplesmente porque
os que vieram e venceram não
mereciam estar vivendo
há dores que São Pedro algum
recolhe
há dragões que Jorge algum é
capaz de domar
daquEla que cheira e se estrepa
daquEla que adora escrever com
bic mesmo sabendo que o tempo detonará a escritura
esborranchando a caligrafia no
papel
daquEla cheia de ruídos
incapturável na mais dura
disciplina
deixo meus rastros surtados por
convicção
descontrolados porque assim é
melhor
e te mando catar coquinhos
quando procurar superfícies de
sentido que o pariu
e tu não me engana que não é teu
o poema da 52
única desvantagem é no manicômio
não servirem sashimi, veuve clicquot e marzipan
por isso melhor disfarçar a
psicose e garantir a estada aqui
acreditam que sinto medo quando
minha vontade de morrer é aventura grande
para chegar bem onde não sei o
que tem lá
sim, me precipito muito
escolhi uns corpos, mas eles
tinham neuroses que feriam meus abismos
por que, então, vens acadêmica
enquanto eu te queria fluxo e emanação?
erro porque confundo as datas e
sofro a lonjura dos teus abraços numa cidade de cinema
onde conseguir um programa
exigiria não te ler e não gastar as noites nessa escrita
talvez pessoa sem número
que perdeu a voz
na anotação trocada
e agora, sem corpo...
Como? Não sou sem corpo então
como parecer sem ser será?
se creio, acredito no que desejo
como não desejo sentido, quero as
palavras sonantes
que só pulmão, garganta, língua e
boca podem dar
ganhar as quartas e os singulares
perder a chance desse acontecimento
sem perdão porque esse tempo não
voltará
já me desfiz sem nem fazer a
performance
por mais que se queira o avião
nunca cai
nenhuma bala na boca do túnel
sem evocar crítica, deus o livre
afungentar a clínica
que tudo se destrave sem c. se é
que há alguma trava na louca que não entra no seu pote
daquEla que jamais tenta
preencher lacunas, ainda que compulsoriamente risque
rabisque e encha de quadros e coisas toda as
superfícies possíveis
ESTRANGEIRO
Uma cama ampla com
lençóis brancos e travesseiros azuis vista de cima. Um corpo com túnica indiana
se espraia lendo caderno de espiral próximo a um facho de luz branca. Um close
no braço cheio de hematomas.
Sala de pé direito
alto. Três figuras sérias cujas roupas não interessam e nem se destacam somando
números. Pela janela o morro da
Mangueira. Tantas vezes filmado que qualquer enquadramento vira clichê.
Arquitetura orgânica pouco caiada. Não Há imagem captada que dê conta do fluxo
de um olho sonoro perante as aglomerações vistas da sacada feita camarote na
Universidade cinza. Caixas de concreto, lâminas perfurantes: esse é o prédio.
Pode, uma “linguagem” como o cinema remeter ao fluxo pouco cortado do
pensamento enquanto imagem sentida no barulho do trânsito, no suor acumulado
nas dobras sob atmosfera tropical, no cheiro emanado entre as pernas, no olho
que discorre aproximações e distanciamentos que enquadramento algum dá conta? Há
cinema nas palavras? Pode, um cinema de escritas loucas sem imagem? Conseguem,
os frequentadores da Oficina de Criatividade, assistir filmes? Por que não
apenas a escritura, em sua grafia de glifos encadeados ao esmo do morfema
saboreado pela voz? Por que não deixar a sintaxe coerente e se assumir na prova
do que o juízo traz como impossível?
Ah, sei, defendes
uma tese e fazes isso já de antemão, com a excelência que um Programa exige. Então,
use essa arguição, publique, enfim, cumpra com que o mundo espera de uma
professora doutora terapeuta e tal. Vai em frente, tu podes muito.
Aqui, paro na
imensidão do basalto e num horizonte onde o mar e seus cheiros não se fazem
sentir, embora eu saiba, intelectivamente, que estejam perto. Viajo para ficar
no mesmo lugar examinador, avaliador e acadêmico do qual a arte sempre quer
fugir. Por isso piro. E a pira, simbólica, farroupilha e expedicionária é coisa
que só na Redenção se entende.
Insensato. Posso
adjetivar? Cabem adjetivos para uma proposta dessas?
Não vamos ficar na
problemática das adjetivações. Os artigos estão praticamente prontos dentro do
documento. A ordem é publicar.
Todo meu carinho,
o quanto for possível de extrair das frias palavras que mando desacompanhadas
da voz.
P.S. As mães sempre ficam mais
histéricas e descontroladas perto das filhas.
P.S 2. As filhas tentam se
controlar e parecer sensatas perto das mães.
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