Náusea infinda no sacolejar do microônibus numa das piores estradas interurbanas do país. Daquelas de quatro pistas que atravessam cinco cidades sem respiro de matos. Todo corpo dói e o destino, se não ingrato, pouco prazeroso será. Não há latrinas, apenas mal-estar num trânsito truncado. E então, numa parada perto do fio de canteiro verde que começa a prenunciar bifurcações e futuras estreitezas da rota, exatamente na altura dos olhos de quem na condução quase regurgita, ela se mostra. Sob a luz violácea que anuncia a noite, a textura dos galhos e a forma banal das folhas atestam o possível conteúdo róseo e suculento do fruto. Único e quase imperceptível espécie em meio às floríferas ornamentais que tentam apaziguar o impacto industrial do entorno. Filha improvável entre veículos em alta velocidade e toda a pestilência do diesel. Sua contemplação instantânea alivia o absurdo das dores que no corpo se acometem. A paisagem tosca da pista no sentido contrário é morro escavado para erguer, no pior design que a humanidade constrói, uma loja de piscinas de fibra onde no interior recém acesso se avistam dezenas de lareiras, dessas prontas para serem instaladas. Fogo e água. Alguém precisa mais? Quem se importa com arquitetura? Tudo anda. Era um ninho, naquela árvore pata-de-vaca ou só emaranhados de palha? Se a vida insiste em fazer vicejar seus frutos até no pior trecho dessa BR, por que é tão fácil desistirmos dela?
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