quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

custos

Eliminar o caos não garante um cosmos coeso. As moscas aparecem a revelia dos cheiros ditos afastadores de insetos. Depois de toda a louça, depois de estender os panos, a roupa, esticar camas, colocar as coisas nos devidos lugares, varrer a poeira para fora, te é dado um respiro de nada. O sol distorce. Com o corpo estendido ao chão, num dia sem nuvens, conheces Olorum imenso, sem nada para ser dito. Apenas respeitado. Graças de quem pouco espaço consegue. Manter cubículos limpos é tudo. Neles vivemos. Nem que seja para sair tranqüilo de dentro da restrição das tocas e deitar num fora não calçado para absorver o infinito celeste que todos recebem. Ar e luz sideral ainda não se paga. Espaço, por mais que se trabalhe, cada vez menos se têm. Dores aumentam com a idade. Vontade de chorar só melhora quando as lágrimas brotam. Olhar as estrelas e entrar no mar é sentir-se um pouco menos miserável. Fazer arte, mesmo que ninguém aprecie, é a única maneira de não preferir morrer. Criar prazeres nas dificuldades é o jeito que os advindos de coitos arranjam para não sucumbir ao que surge em torno dos coitados. Não inventamos todo esse tranco, mas não há o que fazer senão agüentá-lo.

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