Um corpo pode acordar no frio, muito cedo pela manhã. Um corpo pode se mover e encontrar outros corpos. Pode emitir sons e marcar superfícies. Um corpo pode mascar, engolir e defecar. Um corpo digere. Um corpo expele líquidos por vários orifícios. Um corpo pode querer outro corpo e sofrer as ausências do corpo na medida em que tanto deseja. Um corpo canta. Um corpo dança. Um corpo toca. Um corpo se expande e se encolhe. Um corpo pode gerar outro corpo. Um corpo pode ficar horas agachado numa tenda de meio metro com dezenas de outros corpos no calor da água em volta de pedras efervescentes. Um corpo pode fazer fogo. Um corpo pode ficar nu ao relento, um corpo pode se queimar. Um corpo se quebra. Um corpo atravessa a noite. Um corpo esquece e um corpo lembra. Um corpo dura muitos anos. Um corpo não passa de paixão. Um corpo pode criar imagens. Um corpo pode beijar outro corpo na beira do abismo. Um corpo sempre é arte.
Texto inspirado na mensagem de agradecimento de Daniela Coletti, em nome do pessoal do arranjo 2 das conversações pedagógicas da Rede Municipal de Ensino, na qual a célebre pergunta de Spinoza se compunha com O beijo de Klimt.
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