quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

aos titulados

Mostrar a miséria é fácil. Criticar o status quo não adianta nada. Enquanto se permanece na facilidade da acusação, nenhum outro real se faz. O que se come é alimento ou lixo de acordo com o ponto olfativo daquele que luta em busca de comida. Usar a catação alheia na sedimentação de idéias socialistas obsoletas não passa de um recurso de quem mal separa o seco do orgânico. Porque não sabe que público é uma abstração para lugar algum e que o privado só interessa aos que vivem de olho em algumas celebridades. Não milhões ocupados com suas próprias vidas, ainda que apatizadas pela vacuidade das televisões. Desprezar o povo é a maneira mais fácil de jamais mudar alguma coisa. Contabilizar a morte como desculpa para o horror social generalizado é canalice. Reclamar da educação, da falta de cultura, dos problemas de letramento e outras atrocidades da dita cultura de massas, uma estratégia mais que batida. Orgulho, só o que a música dá, na batida do samba, no retumbar das caixas, no quebrar dos quadris. Das velhas conversas ao pé do fogo, todo orgulho é apenas tênue e instável tradição. Ufanismo só para não se viver de ufs cansativos por ter que se agüentar ladainhas infames. Antes, a genialidade dos reclames de coisas que mal sabemos o que é e nem iremos comprar. Em primeiro lugar, as pequenices pequenas de quem pouco pede. E não impele quem muito faz e pouco esbraveja a urbe que lhe coube. Grandes soluções somente por mínimas vias. Conceitos só funcionam para sustentar práticas. Mudar a fachada da casa com as próprias mãos, usando despojos, é pelo menos alguma coisa.

Um comentário:

silvio disse...

Olá. Tenho acompanhado as linhas, embora não tenha lido todas as postagens anteriores. Mas essa me tocou bastante. Eita, com essas coisas fico me degladiando uma porção de vezes.

Um abraço. Valeu por escrever estas coisas.