domingo, 10 de fevereiro de 2008

silêncios e fugas

Foge de muita gente. Porque não tem paciência de escutar a mesmice que elas falam. Porque não tem tempo para deter-se em vidas pouco notáveis. E principalmente porque considera as pessoas que se evita chatas, muito chatas. Pelo tipo de assunto e pelo tipo de sentimento, pois querem sempre alguma coisa. Um aval, um parecer, um olhar de quem elegeram ideal. Por outro lado, há os que solicitam nem que seja para abominar coisas irrelevantes, como colocar cascas dos vegetais nos canteiros, arrancar as flores do próprio jardim, secar folha por folha, para a salada, individualmente. Coisas que, sempre que possível, é bom se fazer. Pouco se cala. Há sempre uma palavra, que afasta ou contempla os chatos que solicitam. Ao responder, dá-se destino aos corpos que exigem algo. Somente se ignora quando se trata de algo que realmente não chama. Por pior que seja, atende-se, pois só assim se pode, verdadeiramente, deixar de ser incomodado.
Uma única pessoa foge ou simplesmente ignora. Embora não espere nada, sim, talvez queira demais, visto ter colocado em alguém o posto ideal. E isso é o suficiente para ser desagradável. A ponto de pouco suportar ausências, mesmo que elas nada signifiquem. Porque talvez até esse eu, extraordinário e muito solicitado, tenha seu aspecto chato, nada notável, nem um pouco necessário e completamente repetitivo. É bom saber como os outros se sentem. Mas muito difícil jamais compreender o que imobiliza um específico outro e o afasta. Ainda mais na consciência de uma nula importância, na certeza de uma irrelevância e nesse eterno exercício de desprendimento, esse jogo de esquecer e não guardar nenhuma delícia impossível, ignorando as dores que certo silêncio arrasta.

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