segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

valor de suporte

Do que vale uma obra, além de seu suporte? Ato em curso, as obras não falam, entretanto, muito dizem. Uma obra não é, mas uma obra pode. E para ser obra, dizem, precisa estar exposta. Mas não pode a obra, guardar-se para um tempo que ainda não a comporta? Visto que nem tudo o que se expõe é obra, uma obra pode ficar guardada. Uma obra pode ser insuportável. Nem por isso não vale. O suporte de uma obra não é exatamente aquilo que a comporta: tela, livro, palco, só para citar os mais simples. O que comporta uma obra não é, necessariamente, o que a sustenta. Tampouco o artistautor que a engendra. Nem os agentes que a propagam pelo mundo, em geral um tipo restrito de mundo. Dadaísmos que só tropicalistas pegam. Coisas que já estão velhas, mas ainda não foram completamente digeridas. O que pode, numa obra, depois de vanguardas seculares, ser novo? Como pensar obras sem a repetição incansável de seus suportes? Palavras, objetos, cacarecos, despojos vários, corpo. Instrumentos que são suportes, suportes que são instrumentos. Há algo que ainda não tenha sido usado? Reapropriado? Transfigurado? E o que vale, hoje, desenvolver uma obra senão para desdobrá-la em pensamento? E pode o pensamento, que mal suporta o devir impensado das coisas, ser obra sem suporte algum?

Um comentário:

Anônimo disse...

Esses últimos textos sobre arte são muito poéticos e inspiradores. Interessante como consegues dar essa fluidez etérea ao tema da obra, sair do ordinário e fazer-te compreender nesse plano insólito sem cair numa mera análise crítica.